“… as mulheres não são passivas nem submissas. A miséria, a opressão, a dominação, por mais que sejam, não bastam para contar a sua história. Elas estão presentes aqui e além. Elas são diferentes. Elas se afirmam por outras palavras, outros gestos. Na cidade, na própria fábrica, elas têm outras práticas cotidianas, formas concretas de resistência – à hierarquia, à disciplina – que derrotam a racionalidade do poder, enxertadas sobre seu uso próprio do tempo e do espaço. Elas traçam um caminho que é preciso reencontrar. Uma história outra. Uma outra história” (PERROT, 1988, p. 212 ).
Não à violência contra às mulheres (Ilhabela, SP)
O feminismo surge como um movimento social e político no final do século XVIII. Atualmente, é concebido como um movimento que busca conscientizar acerca da situação da mulher no interior da sociedade e, especialmente, visa garantir equidade. São variados os tipos de feminismo existentes hoje em dia. Vamos conhecer um pouco sobre o processo histórico desse movimento?
EQUIDADE – Disposição para reconhecer imparcialmente o direito de cada um. Enquanto a igualdade busca tratar todos da mesma forma, independentemente da sua necessidade, a equidade trata as pessoas de formas diferentes, levando em consideração o que elas precisam.
Podemos colocar o surgimento do feminismo com o desejo de participação da vida política: sufrágio (voto) feminino. Esse movimento é notado ao final do século XIX e início do XX. O segundo grande momento está relacionado às ações de liberação feminina (a partir da década de 1960). O terceiro ponto do processo histórico tem o seu marco na década de 1990 e, alguns autores indicam que possa ser considerado uma continuação e uma reação às falhas do segundo movimento.
Momento proto-feminismo
Local/Contexto histórico | * França * Revolução Francesa (1789) |
Motivação | Mulher considerada pessoa, cidadã (âmbito jurídico, econômico e político) |
Marco histórico | * “Uma Reivindicação pelos Direitos da Mulher” (1792), de Mary Wollstonecraft. Obra em que a autora argumentava que a desigualdade social e política entre os sexos devia-se sobretudo à educação diferenciada que as mulheres recebiam, e ao cerceamento da sua liberdade, por convenções sociais longamente estabelecidas. * A “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”, escrito no ano da Revolução, foi combatida pela “Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã”, escrito pela feminista francesa Olympe de Gouges (1748-1793) em 1791. Por esse motivo foi executada em Paris, dia 3 de novembro de 1793. |
Momento 1 – o feminismo como movimento social por direitos
Local/contexto histórico | * Grã-Bretanha e Estados Unidos da América * Final do século XIX e começo do século XX |
Motivação | Promoção dos direitos jurídicos, como a questão de direitos contratuais, políticos (direito ao voto*) e de propriedade, oposição aos casamentos arranjados e à propriedade de mulheres e filhos pelos seus maridos |
Marco histórico | * Direito ao voto * Melhores condições de trabalho * Proibição e criminalização dos casamentos forçados (conquista do ano 2014, na Grã-Bretanha) * Direito à propriedade (mulheres casadas). |
Momento 2: Ampliação dos direitos sociais e culturais
Local/Contexto histórico | * Sociedades ocidentais no geral, marcadamente Estados Unidos da América e França * Século XX: 1960 a 1980 |
Motivação | * Combater as desigualdades culturais e políticas das mulheres como questões intimamente ligadas. Utilizando do surgimento e da eficácia da comunicação de massa, as feministas encorajavam as mulheres a refletirem sobre diversos aspectos de suas vidas pessoais como estando profundamente relacionadas ao poder – estrutura de poder sexista. |
Marco histórico | * Os Estados Unidos da América iniciam a Guerra do Vietnã, envolvendo um grande número de jovens. Paralelamente, no mesmo país surgiu o movimento hippie, na Califórnia, que propôs uma forma nova de vida, que contrariava os valores morais e de consumo norte-americanos, propagando seu famoso lema: “paz e amor”. Na Europa, aconteceu o “Maio de 68”, em Paris, quando estudantes ocuparam a universidade de Sorbonne, pondo em xeque a ordem acadêmica estabelecida há séculos. O movimento alastrou-se pela França, onde os estudantes tentaram uma aliança com operários, o que teve reflexos em todo o mundo. |
Momento 3: Contínua expansão dos direitos e busca por equidade em todos os aspectos
Local/Contexto histórico | * Notadamente em todas as regiões do globo. Entretanto, em alguns alguns países asiáticos e africanos, embora a luta exista, a repressão do Estado e da sociedade patriarcal inclui penalidades severas, como agressão, encarceramento, mutilação física e pena de morte. * A partir da década de 1990 aos dias atuais. |
Motivação | * Fim da violência contra à mulher, direito reprodutivo, direito ao trabalho e pagamento equitativo, igualdade no casamento, direito à terra, direito à saúde materno-infantil, luta contra o racismo (feminismo negro), orientações sexuais entre outros. |
Marco histórico | * O movimento iniciou um processo de profissionalização, por meio da criação de Organizações Não-Governamentais (ONGs), focadas, principalmente, na intervenção junto ao Estado, a fim de aprovar medidas protetoras para as mulheres e de buscar espaços para a sua maior participação política. * Uma das questões centrais dessa época era a luta contra a violência, de que a mulher é vítima, principalmente a violência doméstica. Além das Delegacias Especiais da Mulher, espalhadas pelo país, a maior conquista foi a Lei Maria da Penha (Lei n. 11 340, de 7 de agosto de 2006), que criou mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. |
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Conceitos e expressões
• Misoginia – Discriminação contra as mulheres apenas pelo fato de ser mulher.
• Feminicídio – Assassinato de mulheres em contextos de desigualdade de gênero, geralmente dentro de relacionamentos abusivos.
• Gaslighting – Abuso psicológico no qual o abusador faz a vítima duvidar de sua capacidade, memória, percepção e sanidade.
• Mansplaining – Quando um homem explica algo óbvio a uma mulher, como se ela não fosse capaz de entender.
• Manterrupting – Quando uma mulher é constantemente interrompida por homens, a ponto de não conseguir terminar sua frase ou explicação.
• Bropriating – Quando um homem se apropria de uma ideia já apresentada por uma mulher e leva os créditos pelo desenvolvimento da ideia.
Bibliografia consultada:
PERROT, Michele. Minha história das mulheres. São Paulo: Editora Contexto. 2007.