A cultura faz parte da totalidade de uma determinada sociedade, nação ou povo. Essa totalidade é tudo o que configura o viver coletivo. São os costumes, os hábitos, a maneira de pensar, agir e sentir, as tradições, as técnicas utilizadas que levam ao desenvolvimento e a interação do homem com a natureza. O legado cultural que herdamos dos povos que se misturam deu origem ao que nós entendemos como povo brasileiro.

Frequentemente, estudos que utilizam populações são questionados quanto à homogeneidade de suas amostras em relação à raça e etnia. Esses questionamentos procedem, pois a heterogeneidade amostral pode aumentar a variabilidade dos resultados e mascará-los. Esses dois conceitos (raça e etnia) são confundidos inúmeras vezes, mas existem diferenças sutis entre ambos: raça engloba características fenotípicas, como a cor da pele, e etnia também compreende fatores culturais, como a nacionalidade, afiliação tribal, religião, língua e as tradições de um determinado grupo. A despeito da ampla utilização do termo “raça”, cresce entre os geneticistas a definição de que raça é um conceito social, muito mais que científico.

Quando olhamos os três grupos étnicos que se miscigenaram no Brasil Colônia, séculos XVI e XVII, com suas características biológicas específicas e também sócio-culturais, suas tradições, vemos como fizeram toda a diferença no processo de colonização e formação do povo brasileiro, diferentemente de outras colonizações empreendidas pelo mundo.

O Brasil é uma “aquarela” de grupos étnicos! Constituída por meio da colonização (século XVI) e depois, pelas imigrações por volta dos séculos XVIII e XIX. Temos então uma pluralidade de identidades, caracterizada pelas diferenças. Por conta dessa variedade de identidades, povos e tradições, os diferentes grupos étnicos fizeram com que ocorressem em nosso país, um processo chamado de etnicidade.


Indígenas: O território que se tornaria o Brasil registra a presença de humanos há cerca de 12 mil anos. Os indígenas ocupavam toda superfície, especialmente o litoral. Desde 1500 até a década de 1970 a população indígena brasileira decresceu acentuadamente e muitos povos foram extintos. O desaparecimento dos povos indígenas passou a ser visto como uma contingência histórica, algo a ser lamentado, porém inevitável. Não devemos pensar que se tratavam de um único povo, mas sim de várias tribos indígenas, cada uma com sua língua e costumes.


Europeus (Portugueses): Introduziram novos conceitos de sociedade, economia e religião, muito diferentes aos costumes indígenas. Um dos exemplos é a economia: ao invés de plantar para subsistência, agora era preciso cultivar produtos em larga escala que pudessem ser vendidos no mercado europeu. Também trouxeram sua religião e a impuseram aos indígenas. Através da crença, vieram as festas, o idioma (latim e o português) e uma nova filosofia de vida. Ao invés de vários deuses, agora, adorava-se somente uma divindade, havia um livro para seguir e uma hierarquia de sacerdotes. Além da religião, o português passou a ser o idioma do novo território, assim como a organização política e a economia capitalista.


Africanos: Foram trazidos para serem escravos nas Américas. No entanto, cada indivíduo trouxe seu idioma, sua fé e suas habilidades. Nossa cultura possui muitos elementos africanos. Na culinária, como azeite de dendê, feijoada, acarajé, mungunzá, cocada etc. Na música, sua influência daria a cadência e o ritmo sincopado próprio da música popular brasileira. Igualmente, na dança, verificamos que o jeito de mover a cintura foi herdada dos africanos, o que originou uma infinidade de bailes como o maxixe e o samba. Os africanos, como os povos iorubás e jejes, trouxeram a religião e seus orixás, que foram misturados com a crença cristã. Isto deu origem aos terreiros de candomblé e, posteriormente, à umbanda no Brasil.


Na sociedade do Brasil colonial, ser branco era estar no topo da escala, mas ser meio branco já conferia privilégios. O processo de miscigenação brasileiro deu origem a novas populações que resguardam traços físicos e também culturais de ambas suas matrizes

PovoMiscigenação
Mameluco/CabocloÍndios e brancos – O primeiro brasileiro. vem do árabe mamluk, que originalmente significava “escravo”, mas tinha um significado muito diferente pela época da descoberta do Brasil. Entre os portugueses, que viviam em guerra com os muçulmanos, os mamelucos eram considerados particularmente destemidos e perigosos – daí terem começado a chamar assim os mestiços das bandeiras ou os capitães do mato.
Cafuzo ou CarafuzoÍndios e negros
MulatoNegros e brancos. Vem de mula. Não era exatamente pejorativo, depreciativo, mas hoje em dia entendemos como preconceituoso, racista. Na época da escravidão, a maioria dos mulatos era livre e se ocupava de tarefas urbanas. Queria dizer que são híbridos, como o animal, nascido do cruzamento de cavalo com jumento. Outra possibilidade, que não é aceita pela maioria dos lexicógrafos (os autores de dicionários), é que venha do árabe muwallad, filho de estrangeiro com islâmico (mas também estrangeiro puro criado como islâmico).

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) classifica a população brasileira com base em cinco tipos diferentes de raças: os brancos, os negros, os pardos, os amarelos e os indígenas, cuja distribuição podemos observar no quadro a seguir, elaborado com base em informações obtidas pelo Censo Demográfico de 2010:

Cor ou raçaPopulação residentePorcentagem
Branca190.621.28147,51
Preta14.351.1627,52
Amarela2.105.3531,10
Parda82.820.4543,42
Indígena821.5010,43
Sem declaração36.0510,02
Total190.755.799100
Censo IBGE 2010: https://censo2010.ibge.gov.br/resultados.html

Uma recente pesquisa comparou a exatidão da classificação de raça e etnia através do autorrelato do indivíduo questionado e a impressão do questionador. Os resultados mostraram que a percepção do questionador quanto à raça do entrevistado era mais precisa para pretos e brancos, enquanto em relação a outras raças, em muitos casos, os questionadores tinham dúvidas a respeito da raça do indivíduo e a classificavam como “desconhecida”. Assim, concluiu-se que a raça e/ou etnia do indivíduo deveria ser obtida por autorrelato e não a partir da opinião do questionador, pois a classificação étnico-racial foi mais precisa através da autoqualificação. Muitos estudos na Ortodontia brasileira têm tentado definir a raça através da cor da pele, sendo frequentemente utilizados os termos leucodermas, xantodermas e melanodermas. A cor da pele não determina sequer a ancestralidade. Isso é especialmente verídico nas populações brasileiras, pelo seu alto grau de miscigenação. Estudo sobre a genética da população brasileira revelou que 27% dos negros de uma pequena cidade mineira apresentavam uma ancestralidade genética predominantemente não africana. Enquanto isso, 87% dos brancos brasileiros apresentam pelo menos 10% de ancestralidade africana.


Referências bibliográficas:

SANTOS, Diego Junior da Silva et al . Raça versus etnia: diferenciar para melhor aplicar. Dental Press J. Orthod.,  Maringá ,  v. 15, n. 3, p. 121-124,  jun.  2010 .  



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