
Nêmesis, o deus da retribuição, ouviu um desejo de vingança de seu amante rejeitado, e levou Narciso até um lago onde ele viu seu próprio reflexo. Narciso caiu irrevogavelmente apaixonado por sua imagem refletida na água, depois perdeu a vontade de viver, não comeu nem bebeu e acabou morrendo. Diz a lenda que uma bela flor de narciso amarelo floresceu então onde ele morreu e foi nomeado em sua homenagem. Narciso demonstra a infeliz queda de alguém que ama a si mesmo em demasia. Essa história mitológica é a origem da palavra “narcisismo”, em que alguém está fixado consigo mesmo e com seus atributos e tem um senso inflado de superioridade. Na pintura, Narciso é representado sentado na beira de um lago, inclinado e fixado em seu reflexo que vê na água. Contra um fundo escuro, o contraste gritante da camisa branca e dos braços de Narciso cria a impressão de um círculo com o reflexo de seus antebraços inclinados, talvez representando o infinito escuro do amor obsessivo por si mesmo.
O mito de Narciso costuma estar associado ao individualismo, isto é, a tendência que por vezes temos de nos colocar como centro de tudo que acontece. Para o filósofo francês Gilles Lipovetsky (1944-…), podemos perceber essa tendência nas manifestações hedonistas das sociedades contemporâneas.

SOCIEDADE E CONSUMO

Lipovetsky identifica, na sociedade atual dois aspectos essencialmente determinantes para compreendermos como a sociedade se organiza:
1) a passagem do capitalismo de produção para uma economia de consumo e de comunicação de massa: A publicidade é um dos fatores essenciais para explicar nossos padrões de consumo. Compramos apenas o que precisamos?
2) a substituição de uma sociedade disciplinar por uma “sociedade-moda”, completamente reestruturada pelas técnicas do efêmero*, da renovação e da sedução permanentes.


* Efêmero – Algo passageiro, temporário e transitório.
Desenhando, a sociedade que Lipovetsky observa poderia ser representada a partir da tríade: sedução, efêmero e diferenciação marginal:
