Os cegos e o elefante

Ouça a lenda e/ou leia o texto abaixo “Os cegos e o elefante”, poema de John Godfrey Saxe (adaptatação de Heloisa Prieto)


Os sábios cegos e o elefante

Numa cidade da Índia viviam sete sábios cegos. Como seus conselhos eram sempre excelentes, todas as pessoas que tinham problemas consultavam-nos. Embora fossem amigos, havia uma certa rivalidade entre eles, que, de vez em quando, discutiam sobre o qual seria o mais sábio. Certa noite, depois de muito conversarem acerca da verdade da vida e não chegarem a um acordo, o sétimo sábio ficou tão aborrecido que resolveu ir morar sozinho numa caverna da montanha. Disse aos companheiros:

– Somos cegos para que possamos ouvir e compreender melhor do que as outras pessoas a verdade da vida. E, em vez de aconselhar os necessitados, vocês ficam aí brigando, como se quisessem ganhar uma competição. Não aguento mais! Vou-me embora.

No dia seguinte, chegou à cidade um comerciante montado num elefante imenso. Os cegos jamais haviam tocado nesse animal e correram para a rua ao encontro dele. O primeiro sábio apalpou a barriga do animal e declarou:

– Trata-se de um ser gigantesco e muito forte! Posso tocar os seus músculos e eles não se movem; parecem paredes.

– Que bobagem! – disse o segundo sábio, tocando na presa do elefante – Este animal é pontudo como uma lança, uma arma de guerra.

– Ambos se enganam – retrucou o terceiro sábio, que apertava a tromba do elefante – Este animal é idêntico a uma serpente! Mas não morde, porque não tem dentes na boca. É uma cobra mansa e macia. A mão do quarto sábio acariciava o joelho do elefante, e o sábio contestou:

– É muito parecido com uma árvore!

– Vocês estão totalmente alucinados! – gritou o quinto sábio, que mexia as orelhas do elefante – Este animal não se parece com nenhum outro. Seus movimentos são ondeantes, como se seu corpo fosse uma enorme cortina ambulante.

– Vejam só! Todos vocês, mas todos mesmos, estão completamente errados! – irritou-se o sexto sábio, tocando a pequena cauda do elefante – Este animal é como uma rocha com uma cordinha presa no corpo. Posso até me pendurar nele.

E assim ficaram horas debatendo, aos gritos, os seis sábios. Até que o sétimo sábio cego, o que agora habitava a montanha, apareceu conduzido por uma criança. Ouvindo a discussão, pediu ao menino que desenhasse no chão a figura do elefante. Quando tateou os contornos do desenho, percebeu que todos os sábios estavam certos e enganados ao mesmo tempo. Agradeceu ao menino e afirmou:

– Assim os homens se comportam diante da verdade. Pegam apenas uma parte, pensam que é o todo, e continuam tolos!


Treinando o olhar sociológico – As formas de senso comum:

Imediatismo: não é fruto de uma reflexão e observação mais cuidadosa.

Superficialidade: o fato está relacionado muitas vezes somente à aparência

Sentimentalismo: nossa visão da realidade é excessivamente marcada por nossas emoções, excluindo a objetividade, pois são pessoais e não estão baseadas na razão.

Preconceito: o preconceito é atitude de achar que já sabe, sem conhecer algo de verdade, pois usa explicações prontas que estão repletas de juízos de valor¹.

¹ Juízo de valor – julgamento baseado num conjunto particular de valores ou num sistema de valores determinado.


6 comentários em “O processo de desnaturalização e estranhamento da realidade

  1. O elefante e uma representacao de um mapa com diferentes pontos. A percepcao de tato deu a cada um um entendimento diferente conforme partes do que ele e

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    1. É isso mesmo Fernando!! Quando não temos todas as informações disponíveis, apenas fragmentos, fica muito difícil apreender o todo. E assim acabamos por ter um entendimento que não corresponde à realidade (ou a realidade em sua forma íntegra).

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