A análise sobre os movimentos sociais não pode ser separada da análise de classe social, mas também não pode ser resumida por ela. Para definir movimento social devemos estabelecer alguns pontos:
– interesse comum de um grupo é um componente importante, mas não suficiente para caracterizá-lo como tal. Primeiro, porque a ação de um grupo de pessoas tem que ser classificada por uma série de parâmetros para ser um movimento social:
a) formar um coletivo social
b) possuir uma identidade em comum
Isto é, ser negro, mulher, defender as baleias, ou não ter teto para morar são adjetivos que qualificam um grupo, oferecem objetivos comuns para a ação. A partir dessa base é criado o repertório de ação, de ideias, de valores.
– a ação do grupo social: um protesto (pacífico ou não), uma rebelião, uma invasão, uma luta armada, são modos de estruturação de ações coletivas; poderão ser estratégicas de ação de um movimento social, mas sozinhos não são movimentos sociais: movimento social não é manifestação espontânea.

Em resumo, movimento social refere-se à ação dos grupos sociais na história. Esta ação representa um conjunto de práticas sociais e pensamentos, ou seja, o movimento social tem uma finalidade prática, isto é, ele existe pelo que planeja provocar.
Nesse sentido, devemos apontar os dois tipos básicos de movimento social: conjuntural e estrutural
a) conjuntural – o movimento se forma a partir da combinação ou ocorrência de uma dada situação. A demanda é específica, clara, objetiva. Exemplo: manifestações contrárias ao aumento do preço da passagem de ônibus. A resolução pretende ocorrer a curto prazo.
b) estrutural – o movimento procura modificar, alterar a estrutura social. As demandas são variadas, complexas. Exemplo: acabar com o racismo. A perspectiva de resolução é de longo prazo.

As lutas sociais normalmente estão relacionadas à carências (falta de moradia, falta de direitos políticos etc.). Mas não basta haver carência para existir um movimento social: precisa existir demanda, a demanda por sua vez pode ser transformada em reivindicação, através de uma ação coletiva. Carência, legitimidade da demanda, poder políticos das bases, cenário conjuntural podem gerar o campo de forças do movimento social e uma dada cultura política:
Movimentos sociais são ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por atores sociais pertencentes a diferentes classes e camadas sociais. Eles politizam suas demandas e criam um campo político de força na sociedade civil. Suas ações estruturam-se a partir de repertórios criados sobre temas e problema em situações de conflitos, litígios, e disputas. As ações desenvolvem um processo social e político-cultural que cria uma identidade coletiva ao movimento, a partir de interesses em comum, Esta identidade decorre da força do princípio da solidariedade e é construída a partir da base referencial de valores culturais e políticos compartilhados pelo grupo.
500 anos de lutas sociais no Brasil: movimento sociais, ONGs e terceiro setor, Maria Gloria Gohn
É fundamental ressaltar que a pontuação por solidariedade não significa que os movimentos sejam harmoniosos ou homogêneos. O mais comum é a existência de conflitos e tendências internas. Todavia, a forma como se apresentam no espaço público, o discurso que elaboram, as práticas articuladas nos eventos são formulados para representar unicidade.
Em relação aos tipos, podemos ter movimentos de diferentes classes e camadas sociais. O tipo (formato) de ação social envolvida indicará o caráter do movimento. Por classificação, podemos ter movimentos transformadores, reformistas, redentores e alternativos. Existe a compreensão de que determinados movimentos surgem a partir de estímulos externos, por exemplo, os movimentos entre as ações que são geradas por tensões estruturais (movimentos dos negros), crenças generalizadas (movimentos dos direitos civis), distúrbios e violências (movimentos de rua, quebra-quebras etc.) e movimentos que são deflagrados por situações de controle social.
Próxima aula: Movimentos Sociais – Classificação
